sábado, 28 de março de 2009

Começa a F1 2009

O final da temporada passada coincidia com o estouro da crise financeira mundial, que por sinal ainda continua a exibir seus efeitos pelo mundo e continua a gerar muitas incertezas. Essa crise gerou e continuar a gerar muita preocupação pelo mundo e na F1 não foi diferente. Seu primeiro efeito por lá foi o anúncio da retirada da Honda. Depois de muitas negociações Brawn, que já era diretor na extinta Honda, assumiu a equipe que passou a se chamar Brawn e Fry, que liderou a Honda por todo o tempo, continuou mas parece ter perdido bastante espaço nas decisões.

Independentemente da crise, já havia a tempo, o planejamento de introdução de uma série de novidades com um novo regulamento técnico que primava por ultrapassagens e dava continuidade aos planos de redução de custos na F1. No contexto das ultrapassagens, saíram de cena os apêndices aerodinâmicos (aquelas pontas todas no carro), a asa dianteira ficou mais larga e baixa, a asa traseira mais estreita e alta, compensou-se a perda de pressão aerodinâmica com o retorno dos pneus slick (os lisos), asa dianteira regulável pelo piloto e introdução do KERS (sistema de recuperação de energia cinética).

No contexto da redução de custos, limitou-se o uso de 8 motores por piloto durante a temporada (mais 4 para testes), limitação a 18 mil giros, imposição de custos menores para venda de motores a equipes independentes, extinção dos testes (extra GPs) durante a temporada e redução na utilização dos túneis de vento. Para maiores informações sobre as mudanças, consultar o Tazio.

Com execeção dos cortes nos testes eu gostei das outras alterações, mas acho que o Kers poderia ter sido adiado devido a crise. Com as mudanças para facilitar as ultrapassagens houve um nítida mudança na aparência dos carros. Eles ficaram mais limpos com a saída dos apêndices aerodinâmicos, mas causa estranheza as mudanças nas asas. As asas dianteiras reguláveis são muito interessantes, mas para quem assiste não há muito o que ver. O uso do Kers é muito bacana de ver.

Outras mudanças ainda houveram quanto ao procedimento adotado na entrada do Safety Car. Os boxes não mais ficarão fechados, mas os pilotos devem respeitar um limite de velocidade considerado seguro. Depois do impacto da saída da Honda ainda decidiu-se por tornar a F1 mais interessante para o público. As equipes têm de publicar o peso com que os carros vão largar (nível de combustível), terá sessão de autógrafos com todos os pilotos e todos os pilotos devem conceder entrevistas depois dos treinos classificatórios e corridas. Muito bom.

Com estas mudanças nas regras já estava muito bacana a expectativa, mas a FIA (Federação Internacional de Automobilismo) e a FOM ("dona" da F1) optou por melecar tudo quando, faltando apenas 2 semanas para o primeiro GP do ano, anuncia que a pontuação se mantem como foi em 2008 mas o piloto vencedor na temporada será aquele com mais vitórias. Acho bom valorizar a vitória, mas desta maneira gera anomalias como: forçar a definição do número 1 na equipe e o tudo ou nada. Provavelmente os pilotos arriscariam muito mais, gerando situações perigosas. Não vendo chances de vitória, pilotos poderiam parar para poupar o motor para a próxima etapa.

A FOTA (equipes) havia sugerido um sistema de pontuação 12-9-7-5-4-3-2-1, que daria maior valor a vitória. Isso sim parece uma idéia muito melhor. Você valora vitórias, mas continua a privilegiar a regularidade. No final das contas houve muitas críticas e a FIA voltou atrás, mantendo as coisas como estavam. O episódio deixou claro que a FIA e a FOM não aceitam sugestões e prometem impor o sistema bizarro de definição de campeão para 2010.

Outro ponto onde a FIA tem falhado é em apresentar uma decisão definitiva sobre o difusor utilizado pela Brawn, Williams e Toyota. Nos últimos testes da pré-temporada estas equipes mostraram um forte desempenho e levantou suspeitas de irregularidade. Acontece que o texto do regulamento ficou um tanto quanto ambigüo e estas 3 equipes fizeram uma interpretação distintas das outras 7, o que lhes confere uma grande vantagem e que para as outras equipes poderem competir de igual para igual terão de fazer grandes alterações no projeto de seus carros, algo praticamente impossível por todas as limitações financeiras e nos testes. Maiores informações aqui.

Todo o atraso nas definições quanto ao surgimento da Brawn levou todos a acreditar que a equipe não teria chances de mostrar resultados expressivos durante o ano, mas desde sua primeira apresentação na pré-temporada a equipe mostrou ter um carro muito rápido e confiável. Vale lembrar que o carro da Brawn não nasceu do nada. A Honda começou a trabalhar em 2008 no carro de 2009 muito cedo, quando viu que dispunha de um carro muito ruim para aquela temporada e que não havia muito mais o que fazer para evoluir. Naquela época a equipe ainda dispunha de muito dinheiro e foi feito um grande investimento no novo projeto. Outro ponto positivo para o novo carro foi a mudança de motor de Honda para Mercedes. Com a saída da Honda, ela não queria mais produzir motores para a F1 e assim a Brawn teve de arrumar um fornecedor e a Mercedes foi a escolhida. Por sorte do destino o bom projeto do carro casou muito bem com o motor Mercedes, mais forte que o Honda.

O resultado disso tudo acaba de sair, a Brawn conseguiu em sua primeira aparição num GP dobradinha na classificação e na corrida. Fora que se lança como a favorita ao título. Não havendo restrições quanto aos difusores, deve confirmar o título muito antes do final da 17ª etapa da temporada (última delas). Caso a FIA o proíba, ainda deve se mostrar forte mas as outras irão encostar.

Fora a surpresa com Brawn, Williams e Toyota, a maior discrepancia de desempenho em relação a temporada passada está na McLaren. A equipe tem mostrado muitas dificuldades com o novo carro. Dentre as equipes sem o difusor "diferenciado", Ferrari se destaca mas continua, assim como em 2008, a mostrar problemas de confiabidade tanto na pré-temporada como hoje na corrida viu-se problemas.

Hoje a corrida acabou da seguinte forma. Seguem os 8 primeiros, aqueles que pontuam.

1. Button (Brawn)
2. Barrichello (Brawn)
3. Trulli (Toyota)
4. Hamilton (McLaren)
5. Glock (Toyota)
6. Alonso (Renault)
7. Rosberg (Williams)
8. Buemi (Toro Rosso)

Como já era esperado, dentre os 8 temos 5 dentre dentre Brawn, Williams e Toyota. Nakajima da Williams, que seria o sexto dentre os turbinadas com o super difusor, bateu e abandou a prova. Destaque para a dobradinha da Brawn. Destaque também aqui para o bom desempenho de Hamilton e Alonso com tudo o que enfrentaram neste final de semana. O destaque negativo do final de semana fica por conta do abandono dos dois carros da Ferrari. Raikkonen parece que saiu em conseqüencia de um acidente. Chegou a continuar correndo um pouco mais, mas depois foi para os boxes. Massa vinha numa prova razoável até a sua segunda (e provavelmente última) parada. Vinha em terceiro e teria chances de lutar pelo 2º lugar, mas parou muito cedo e caiu bastante. Depois apresentou algum problema, deu uma volta muito lento e foi para os boxes.

Dentre os brasileiros o grande destaque foi Rubinho. Se mostrou mais forte que seu companheiro nos treinos livres, mas no classificatório ficou em segundo. Na corrida, largou mal e fez uma corrida de recuperação. Graças aos problemas enfrentados por Massa e ao acidente envolvendo Kubica e Vettel no final, retomou o segundo posto. Nelsinho abandonou ao rodar na saída da primeira vez que o Safety Car foi acionado. Alegou que forçou uma ultrapassagem e com os freios frios não teve como segurar o carro.

Sobre Kubica e Vettel, fora a Brawn, foram os pilotos que mais me chamaram a atenção. Não espera nem de longe o desempenho que apresentaram hoje. Caso não colidessem provavelmente estariam no pódio. Meu comentário sobre o incidente? Vettel não teria como segurar o Kubica até o final devido aos pneus e forçou para tentar manter a posição. Kubica, por sua vez, forçou para ganhar a disputa. Com os pneus em estado crítico, Vettel terminou por abrir na curva e colidiu. Não acho que seja caso para punir nenhum deles, mas acredito que se houve erro este foi de Kubica. Ele deveria ter abortado aquela tentativa e tentava em seguida. De qualquer forma, gostei demais do desempenho de ambos.

O chato é que mal começou o campeonato e já podemos ter uma intervenção da FIA nos resultados. Dia 5 ocorrerá o GP da Malásia e no dia 14 a FIA erá julgar o uso do difusor diferenciado. Os resultados dos 2 primeiros GPs podem ser alterados e a decisão sobre a continuidade ou não do uso de tal difusor terá um impacto direto na disputa pelos títulos. Acho que a FIA deveria ter dado uma posição de forma mais rápida, antes do GP da Austrália. Acredito que a decisão será política e terminará por proibir o uso, mas manterá os resultados.

O que esperar daqui para a frente? Brawn é a favorita. Vettel e Kubica darão trabalho. Hamilton e Alonso mesmo com carros problemáticos irão dar seus pulinhos. Ferrari precisa resolver os problemas de confiabilidade e estratégia de corrida. Não entendi a segunda parada do Massa. Deveria ter sido bem depois.

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