domingo, 1 de novembro de 2009

F1 2009

Hoje aconteceu, em Abu Dhabi, o 17º e último GP da temporada 2009. Foi um GP de estréia. Belas imagens e um lugar fantástico, mas esqueceram do principal, a pista. Apesar de ser em um circuito fechado, a pista tem características de um circuito de rua. O resultado foi o esperado, corrida muito chata. O ponto alto ficou por conta de uma ultrapassagem de Kobayashi sobre o campeão, Button, que estava ainda com os pneus frios. Além disso, houve uma forte disputa entre Button e Webber pela 2ª posição nas 3 últimas voltas. As investidas de Button fracassaram, mas geraram alguma emoção. Na ponta, Vettel nem tomou nota do que acontecia. É verdade que Vettel teve sua vitória facilitada pelo abandono de Hamilton logo após a primeira parada, mas o ritmo imbatível da McLaren na classificação não apareceu hoje durante a corrida. Fiquei com a impressão que, mesmo sem problemas, Hamilton não venceria. O ritmo inferior ao que se esperava. Mesmo com o carro mais leve que o de Vettel não conseguia abrir. Tanto que depois da primeira rodada de paradas Vettel estava a sua frente.

Rubinho, único brasileiro no GP hoje, disputava a segunda posição no mundial com Vettel, mas não tinha muitas chances. Precisava terminar a frente de Vettel, mas seu carro hoje era bem inferior. Fora que para largar um pouco mais a frente no grid classificou com pouco combustível. Para completar quebrou uma parte da asa dianteira logo na primeira curva em disputa pela 3ª posição com Webber.

Este foi um mundial diferente do que estávamos habituados, devido às profundas alterações no regulamento que rege a construção dos carros. Com as mudanças e a disputa acirrada entre McLaren e Ferrari no ano anterior, houve uma baita embaralhada na relação de forças entre as equipes. McLaren e Ferrari começaram bem atrás e a "estreante" Brawn teve um início arrasador com 6 vitórias de Button em 7 GPs disputados. A equipe, que surgiu do espólio da Honda, assegurou sua participação pouco antes do primeiro GP. Com um acordo de última hora fechou um contrato para fornecimento de motores com a Mercedes e participou apenas da última semana de testes pré-temporada. Os resultados apresentados mostraram enorme potencial do carro com um ótimo casamento entre o carro, projetado e desenvolvido pela Honda desde o início de 2008, e o melhor motor da temporada, Mercedes. Fora isso, esperados problemas de confiabilidade pela falta de testes não se confirmaram.

A grande verdade é que considerar a Brawn uma estreante é de certa forma uma injustiça. A equipe do ano anterior foi mantida. As grandes diferenças que podemos citar entre 2008 e 2009 para Honda/Brawn são:


  • Brawn passou a liderar a equipe. Fry foi mantido, mas perdeu muito espaço no comando.

  • O carro utilizado em 2009 foi o primeiro onde Brawn participou plenamente da concepção e desenvolvimento.

  • Como viram que o carro de 2008 não teria jeito logo no início de 2008, a equipe direcionou todas as energias e recursos para o próximo ano.

  • Brawn foi o único que começou o ano explorando a brecha no regulamento quanto ao difusor.

  • Demora da FIA em se pronunciar sobre a brecha do difusor. A federação deixou que 4 GPs ocorressem até julgar a validade ou não do difusor. Julgou válido e as outras equipes ainda levaram algum tempo para adaptarem seus carros.

  • Troca do motor Honda pelo Mercedes e a bela dose de sorte dele adaptar-se facilmente ao carro.



Acho que todos estes 6 pontos foram cruciais para os títulos este ano. É claro que para a conquista dos títulos não podemos esquecer dos pilotos, ambos de muito experiência e talento, além de já estarem integrados a equipe a um bom tempo. Button foi o campeão, merecidamente, principalmente pelo grande início, onde faturou 6 das 7 primeiras etapas. Depois disso foi consistente e administrou a vantagem. Vale salientar que Rubens teve uma grande participação na conquista da equipe, e até de pilotos para Button, por seu reconhecido talento para acerto e desenvolvimento do carro. Não é a tôa que Button insistiu na manutenção de Rubens para este ano.

Para Rubens a história poderia ter sido bem diferente caso a equipe tivesse participado de toda a pré-temporada ou se os testes não tivessem sido banidos durante a temporada. Acontece que seu desempenho no início do ano foi bastante prejudicado por um problema nos freios. Acontece que Rubens e Button começaram usando o mesmo tipo de freios no início da temporada. Button se adeqüou facilmente, mas Rubens não. Isso levava a superaquecimento nos freios de Rubens. A solução inicial foi a retirada da calota dos pneus. Isso resolvia o superaquecimento, mas fazia com que o carro ficasse mais lento. Posteriormente, já no meio da temporada, decidiu-se por trocar o tipo de freio utilizado por Rubens. A partir daí, viu-se o rendimento do brasileiro crescer. Tanto que ele chegou a suas 2 vitórias e chegou a ameçar o título de Button.

Dentre as mudanças para este ano tivemos uma série delas relacionadas a uma tentativa de facilitar as ultrapassagens e outras ligadas a redução de custos. Sobre as ultrapassagens, não surtiram o efeito esperado. O tão discutido e caro KERS foi utilizado apenas por 4 equipes (BWM, Renault, Ferrari e McLaren) e mesmo assim não foi uma grande vantagem para elas. Acontece que o sistema interferia bastante na distribuição de peso dos carros e acrescenta um peso extra, que nem sempre era superado pelo ganho de desempenho. Demorou a começarem a usar e deixou de ser utilizado em alguns momentos. Para o ano que vem a FIA permitirá seu uso, mas as equipes já fecharam acordo entre elas para ninguém usar. Acredito que a idéia é muito boa, mas precisa ser melhor pensada. A tal da crise financeira também foi um duro golpe para seu sucesso.

Ainda sobre as ultrapassagens, houve a volta dos pneus lisos, o aumento das asas dianteiras, a diminuição das traseiras e a instalação de disposivos para que os pilotos fizessem ajustes na asa dianteira por controles no volante. Acho que isso surtiu um pouco mais de efeito que o KERS. Talvez tivesse resultados mais claros caso a Brawn não tivesse chegado com o tal difusor duplo. Não sou especialista em aerodinâmica mas, pelo que entendi, ele explorar a aerodinâmica de uma forma que estavam querendo que não acontecesse mais neste ano. Não sei como isso ficou para o ano que vem.

Sobre a redução de custos, houve a redução de 19.000 para 18.000 giros máximos no motor, o limite de 8 motores por temporada, o limite de 1 câmbio para 4 GPs, acaberam com as ajudas eletrônicas, vieram com o fornecedor único da centralina (equipamento que gerencia toda a eletrônica no carro) e acabaram com os testes durante a temporada. Não gosto muito desta centralina única e nem do congelamento de desenvolvimento do motor, que já vinha acontecendo. F1 sempre foi um esporte para desenvolvimento. Pior que isso, para mim, foi banir os testes. No início pudemos ver o problema que foi modificar o carro para ter o novo difusor com a limitação nos testes. Depois, ao longo da temporada, pudemos ver o problema que era colocar um novo piloto no carro. Não foi problema só colocar pilotos de outras categorias, mas bastava colocar um piloto de uma equipe em outra para este ficar a tôa na pista. Os treinos livres nos GPs não eram suficientes para os pilotos ganharem confiança no carro. Parece que para o ano que vem vão remediar isso com testes nas segundas pós-GPs. Assim os testes serão feitos e não aumentarão muito os custos.

O ano começou com Brawn imbatível, Red Bull surpreendendo, e Toyota e Williams chamando a atenção. McLaren, Ferrari e BMW decepcionaram. Com o passar do tempo Toyota e Williams caíram de produção e alternaram bons e maus momentos. Ferrari cresceu de produção consistentemente, mas a partir da 10ª etapa se complicou devido ao acidente que tirou Felipe Massa do restante da temporada. Tentou substituí-lo inicialmente por Badoer, reserva da equipe, e depois por Fisichella, que veio da Force India. Devido a carência de testes, nenhum deles conseguiu marcar pontos e figuraram nas últimas posições. No final Ferrari caiu bastante de produção porque decidiu investir seu tempo no carro do próximo ano. McLaren demorou um pouco mais para apresentar um desempenho mais consistente, mas na segunda metade passou a ter um dos melhores, se não o melhor, monoposto. Red Bull teve uma temporada muito forte. De cara mostrou potencial. Cresceu rapidamente, manteve-se forte durante boa parte do ano e em alguns momentos possuiu o melhor carro. Talvez tivesse outro final se não tivesse enfrentado problemas com quebras de motor (Renault) na segunda parte da temporada. A Brawn começou dominante, mas não foi bem no desenvolvimento durante a temporada. Na verdade não foi falta de competência, mas sim falta de dinheiro para isso. Praticamente garantiu os títulos na primeira metade do ano. Perdeu espaço para Red Bull e McLaren durante toda a segunda metade e em alguns momentos para Ferrari e até Toyota, Force India, Williams e BMW.

Dentre os pilotos, o ano foi de Button pelo título e pelo desempenho fantástico do início da temporada. De qualquer forma o grande destaque foi, sem sombra de dúvidas, Vettel. O jovem piloto alemão pode ter errado em alguns momentos, mas mostrou um desempenho fantástico. Não fossem as quebras que enfrentou poderia ter ameaçado e tomado o título de Button. Webber e Rubens foram outros que figuraram entre os pretendentes ao título, mas com menos brilho. A grande qualidade de Webber foi a consistência.

Dentre as grandes decepções no ano coloco Kovalainen, que marcou 22 pontos durante a temporada. Massa com apenas 9 GPs disputados marcou o mesmo número de pontos. Outra grande decepção foi a BMW. A equipe vinha cumprindo bem suas metas a cada ano, mas neste ano despencou. Diferentemente de McLaren e Ferrari não conseguiu reagir e terminou por decidir abandonar a F1.